(1) Entidade geográfica mencionada
Cambaya. Cambaya 2(2), 7(1), 20(2), 43(1), 107(1), 151(1).
Nas orações: 15, 20, 78, 224, 231, 519, 1402, 2141.
- [15](Cap. 2) Despois de estas cinco naos serem todas auiadas & prestes para se partirem de Moçambique, o Capitão da fortaleza, que era Vicente Pegado, apresentou aos Capitaẽs dellas hũa prouisaõ do Gouernador Nuno da Cunha, em que mandaua que todas as naos que aquelle anno deste reyno aly fossem ter, fossem a Diu, & deixassem a gente na fortaleza, pela sospeita que se tinha da armada do Turco, porque se então esperaua na India, por causa da morte do Soltão Bandur Rey de Cambaya, que o Gouernador tinha morto o veraõ passado.
- [20](Cap. 2) As tres naos, despois de venderem aly bem suas fazendas, se foraõ para Goa, com sós os officiaes dellas, & a gente do mar, onde estiuerão mais algũs dias, ate que o Gouernador acabou de as despachar para Cochim, & dahi, tomada a carga, se tornarão todas cinco para o reyno, onde chegaraõ a saluamento, leuando tambem consigo em companhia outra nao noua que se fizera na India, por nome São Pedro, de que veyo por Capitão Manoel de Macedo que trouxe o Basilisco, a que câ chamaraõ o tiro de Diu, por se tomar ahy na morte do Soltão Baudur Rey de Cambaya, com mais outros dous do mesmo teor, os quais foraõ dos quinze que o Rumecaõ Capitão mor da armada do Turco trouxe de Suez no anno de 1534. quando deste reyno foy dom Pedro de Castelbranco nas doze Carauellas do socorro que partirão em Nouembro.
- [78](Cap. 7) Embaraçados nos todos com esta nouidade tão desacustumada, ouue sobre ella muytas altercaçoẽs, & diuersidade de pareceres, porque os mais dizião que era o Gouernador que nouamente chegara de Goa a fazer as pazes da morte do Soltão Bandur Rey de Cambaya, que os dias passados elle tinha morto: outros affirmauão com grandes apostas, que era o Iffante dom Luys, irmão del Rey dom Ioão o terceiro, que então chegara deste reyno, & que o grande numero de vellas Latinas que viamos, erão as carauellas em que elle viera, porque assi se tinha então em toda a India por noua certa.
- [224](Cap. 20) E tambẽ trouxe informação da bahia onde se perdera o Rosado Capitão da nao Frãcesa, & Matalote do Brigas Capitão da outra nao, que por caso de tempo esgarraõ foy ter a Diu no anno de 1529. sendo ainda viuo Soltão Baudur Rey de Cambaya, que a todos os Franceses della fez Mouros, que eraõ oitenta & dous, os quais despois sendo Elches, leuou no anno de 1533. por bombardeiros, na guerra que teue co Rey dos Mogores, onde todos morreraõ, sem hum sò ficar viuo.
- [231](Cap. 20) E sendo sua alteza certificado da sua morte, proueo segunda vez na mesma capitania a hum Diogo Cabral da ilha da Madeyra, a quem Martim Afonso de Sousa a tirou por justiça, por se dizer que praguejara delle sendo Gouernador, & a deu a hum Ieronymo de Figueiredo fidalgo do Duque de Bargança, que no anno de 1542. partio de Goa com duas fustas, & hũa carauella em que leuaua oitẽta soldados & officiaes da mareação, & não teue effeito a sua yda, porque parece, segundo o que despois se vio, que desejando elle de ser rico mais depressa do que o esperaua ser pela via que leuaua, se passou à costa de Tanauçarim, onde tomou algũas naos que vinhaõ do estreito de Meca, de Adẽ, de Alcosser, de Iudaa, & de outros lugares da costa da Persia, & por se là dar mal cos soldados, & não partir com elles do que tomara, conforme ao que de direito lhes vinha, se leuãtaraõ contra elle, & depois de outras muytas cousas, que me pareceo razão naõ se escreuerem, o ataraõ de pes & de maõs, & o leuarão à ilha Ceilão, onde o lançaraõ em terra no porto de Gàle, & a carauella & fustas leuaraõ ao Gouernador dom Ioaõ de Castro, que lhes deu perdão do que tinhão feito, por irem d’armada com elle a Diu a socorro de dõ Ioaõ Mascarenhas, que entõa estaua cercado dos Capitaẽs del Rey de Cambaya, & de então pera cà se não tratou mais deste descubrimento, que tão proueitoso parece que serà para o bẽ commum destes reynos, se nosso Senhor fosse seruido que esta ilha se viesse a descobrir.
- [519](Cap. 43) Chegado este homẽ jũto de Antonio de Faria, vendo elle que era brãco como qualquer de nós, lhe perguntou se era Turco ou Parsio, ao que elle respondeo que não, mas que era Christão, natural de monte Sinay, onde estaua o corpo da bemauenturada santa Caterina, a isto lhe replicou Antonio de Faria, que pois era Christão como dezia, como não andaua entre Christãos, a que elle respondeo que era mercador, & de boa progenie, por nome Tome Mostãgue, & que estãdo surto com hũa nao sua no porto de Iudaa no anno de 1538. o Soleimão Baxà Visorrey do Cayro lha mandara tomar, como fizera a mais outras sete, para trazerem mantimẽtos & muniçoẽs para fornimento da armada das sessenta galês em que vinha por mandado do Turco, para restituyr o Soltão Baudur no reyno de Cambaya, de que o Mogor naquelle tempo o tinha desapossado, & lançar os Portugueses fora da India, & que vindo elle na mesma nao para a beneficiar & arrecadar o seu frete que lhe tinhão prometido, os Turcos, alem de lhe mentirem em tudo como sempre costumão, lhe tomarão sua molher, & hũa filha pequena que trazia comsigo, & perante elle as deshonraraõ publicamente, & porque hum filho seu, chorando se lhes queixou deste grande mal, lho lançaraõ viuo ao mar, atado de pees & de mãos, & a elle meteraõ em ferros, & lhe dauão todos os dias muytos açoutes, & lhe tomarão sua fazenda, que eraõ mais de seis mil cruzados, dizẽdo, que não era licito lograr beẽs de Deos, senão os Massoleymoẽs, justos & santos assi como elles; & porque neste meyo tempo lhe faleceraõ a molher & a filha, elle como desesperado se lançara hũa noite ao mar na barra de Diu, com aquelle moço seu filho, donde por terra fora ter a Çurrate, & dahy se viera ter a Malaca em hũa nao de Garcia de Saa Capitão de Baçaim, donde por mandado de dõ Esteuão da Gama fora à China com Christouão Sardinha, que fora feitor de Maluco, o qual estando hũa noite surto em Cincaapura, o Quiay Taijão senhor daquelle junco matara cõ mais vinte & seis Portugueses, & que a elle por ser bombardeyro dera a vida, & o trazia comsigo por seu Cõdestabre.
- [1402](Cap. 107) Esta cidade do Pequim de que promety dar mais algũa informaçaõ da que tenho dada, he de tal maneyra, & tais saõ todas as cousas della, que quasi me arrependo do que tenho prometido, porque realmente não sey por onde comece a cumprir minha promessa, porque se não ha de imaginar que he ella hũa Roma, hũa Constantinopla, hũa Veneza, hum Paris, hum Londres, hũa Seuilha, hũa Lisboa, nem nenhũa de quantas cidades insignes ha na Europa por mais famosas & populosas que sejão, nem fora da Europa se ha de imaginar que he como o Cairo no Egypto, Taurys na Persia, Amadabad em Cambaya, Bisnagà em Narsinga, o Gouro em Bẽgala, o Auaa no Chaleu, Timplaõ no Calaminhan, Martauão & Bagou em Pegù, ou Guimpel & Tinlau no Siammon, Odiaa no Sornau, Passaruão & Demaa na ilha da Iaoa, Pangor no Lequîo, Vzanguee no graõ Cauchim, Lançame na Tartaria, & Miocoo em Iapaõ, as quais cidades todas saõ metropolis de grandes reynos, porque ousarey a affirmar que todas estas se não podem comparar com a mais pequena cousa deste grãde Pequim, quanto mais com toda a grandeza & sumptuosidade que tem em todas as suas cousas, como saõ soberbos edificios, infinita riqueza, sobejissima fartura & abastança de todas as cousas necessarias, gente, trato, & embarcaçoẽs sem conto, justiça, gouerno, corte pacífica, estado de Tutoẽs, Chaẽs, Anchacys, Aytaos, Puchancys, & Bracaloẽs, porque todos estes gouernão reynos & prouincias muyto grandes, & cõ ordenados grossissimos, os quais residem continuamente nesta cidade, ou outros em seu nome, quando por casos que soccedem se mandão pelo reyno a negocios de importancia.
- [2141](Cap. 151) E feita assi a esmo a aualiaçaõ & a lista desta desauenturada vingãça, se disse que morreraõ a fome, & a ferro cento & sessenta mil pessoas, a fora quasi outras tantas catiuas, & foraõ queimadas cento & quarenta mil casas, & mil & seiscẽtos templos, nos quais dizem que arderão sessenta mil estatuas de idolos, a mayor parte dellas cozidas em ouro, & tres mil elifãtes que se comeraõ no cerco, & seys mil peças de artilharia de ferro & de brõzo, & cem mil quintais de pimenta, & quasi outros tantos de drogas, sandalo, beijoim, lacre, pucho, roçamalha, aguila, canfora, seda, & outras muytas sortes de fazendas muyto ricas, & sobre tudo infinidade de roupas que de todas as partes da India aly tinhão vindo em mais de cem naos de Cambaya, Aachem, Melinde, Ceilão, & de todo o estreyto de Meca, Lequios, & China.
(2) Objecto geográfico interpretado
Reino. Parte de: India.
Referente contemporâneo: Khambhāt, India (AS). Lat. 22.317440, long. 72.619160.
Reino. Localizado a partir de Amadabad. GT remite a Guzarate, o outro nome para a Cambaya.