(1) Entidade geográfica mencionada
ilha dos ladroẽs. ilha dos ladroẽs 53(1), 55(1).
Nas orações: 636, 654.
- [636](Cap. 53) Como nos perdemos na ilha dos ladroẽs.
- [654](Cap. 55) Como nos partimos desta ilha dos ladroẽs para o porto de Liampoo, & do que passamos atè chegarmos a hum rio que se dizia Xingrau.
ilha que se dezia dos ladroẽs 53(1).
Nas orações: 637.
- [637](Cap. 53) Avendo ja sete meses & meyo que continuauamos nesta enseada de hum bordo no outro, & de rio em rio, assi em ambas as costas de Norte & Sul, como na desta ilha de Ainão, sem Antonio de Faria em todo este tempo poder ter nouas nem recado de Coja Acem, enfadados os soldados deste trabalho em que aulia tanto tempo que continuauão, se ajuntaraõ todos, & lhe requereraõ que do que tinhaõ aquirido lhes desse suas partes conforme a hum assinado que delle tinhaõ, porque com isso se querião yr para a India, ou para onde lhes bem viesse, & sobre isto ouue assaz de desgosto & enfadamentos, por fim dos quais se concertaraõ em irẽ inuernar a Sião, onde se venderia a fazenda que trazião nos juncos, & que despois de ella ser feita em ouro se faria a repartição que requeriaõ, & com este concerto jurado & assinado por todos, se vieraõ surgir a hũa ilha que se dezia dos ladroẽs, por estar mais fora da enseada que todas as outras, para dahy cõ as primeyras bafugẽs da monção fazerem sua viagem, & auendo ja doze dias que aquy estauão, & todos com muyto desejo de darem effeito a isto que tinhaõ assentado, quiz a fortuna que com a conjunçaõ da lũa noua de Oitubro, de que nos sempre tememos, veyo hum tempo tão tempestuoso de chuuas & vẽtos que não se julgou por cousa natural, & como nòs vinhamos faltos de amarras, porque as que tinhamos eraõ quasi todas gastadas, & meyas podres, tanto que o mar começou a se empollar, & o vento Sueste nos tomou em desabrigado, & trauessaõ à costa, fez hum escarceo taõ alto de vagas taõ grossas, que com quanto se buscaraõ todos os meyos possiueis para nos saluarmos, com cortar mastos, desfazer chapiteos & obras mortas de popa & de proa, alijar o conuès, guarnecer bõbas de nouo, baldear fazẽdas ao mar, & ahustar calabretes & viradores para talingar em outras ancoras com a artilharia grossa que se desencarretara dos repairos em que estaua, nada disto nos bastou para nos podermos saluar, porque como o escuro era grãde, o tempo muyto frio, o mar muyto grosso, o vento muyto rijo, as agoas cruzadas, o escarceo muyto alto, & a força da tempestade muyto terriuel, não auia cousa que bastasse a nos dar remedio senão só a misericordia de nosso Senhor, por quem todos com grandes gritos & muytas lagrimas continuamẽte chamauamos, mas como, por nossos peccados, não eramos merecedores de nos elle fazer esta merce, ordenou a sua diuina justiça, que sendo ja passadas as duas horas despois da meya noite nos deu hum pegaõ de vento taõ rijo, que todas as quatro embarcaçoẽs assi como estauão vieraõ à costa, & se fizeraõ em pedaços, onde morreraõ quinhẽtas & oitenta & seis pessoas, em que entraraõ vinte & oito Portugueses, & os mais que nos saluamos pela misericordia de nosso Senhor (que ao todo fomos cinquenta & tres, de que os vinte & dous foraõ Portugueses, & os mais, escrauos & marinheyros) nos fomos assi nùs & feridos meter num charco de agoa; no qual estiuemos atè pela menham, & como o dia foy bem claro, nos tornamos à praya, a qual achamos toda juncada de corpos mortos, cousa taõ lastimosa & espantosa de ver, que não auia homem que só desta vista não caysse pasmado no chaõ, fazendo sobre elles hum tristissimo pranto, acompanhado de muytas bofetadas que hũs & os outros dauão em sy mesmos.
(2) Objecto geográfico interpretado
Ilha. Parte de: Asia.
(120; 124ii; 126i) GT Supõe que em FMP puder ser Bakh Long Wi, também chamada Nightingale ou White Tailed Dragon, no golfo de Toquim. 20° 8′ 0″ N, 107° 43′ 0″ E. FMPP (vol 3, p. 96): Wanshan qundao 21° 57′ 0″ N, 113° 45′ 0″ E. Mais específico e citando Saldanha and Jin: ilha de Lao Wan.
Motivos em apoio da identificação de FMPP:
1) Análise do texto: Supomos que GT propõe o Golfo de Tonquim porque nesta área navegava FMP antes de pôr rumo à Ilha dos Ladrões. No
entanto, o próprio FMP diz que a ilha que estava mais fora da enseada (cap. 53), entende-se que se refere à de Ainão e a Cauchenchina, isto é, favorece-se uma localização fora do golfo de Tonquim.
2) Referências geográficas próximas: o topónimo próximo que tem identificação mais segura é Comhay, a onde se dirigia uma embarcação apresada na Ilha dos Ladrões. Esta embarcação é considera inapropriada para viagens longas “era muyto pequena para taõ comprida viagem” (cap. 55). Assim pois favorecemos uma localização próxima a Comhay e fora logo do golfo de Tonquim.
3) Distâncias: A Ilha dos Ladrões fica a 260 léguas de Liampoo, ainda que seja uma grande distância para ter precisão, deve ser tida como orientativa, e favorece de novo uma área mais próxima a Comhay do que no golfo de Tonquim.
4) Documentação coincidente. Isto é, a constatação do mesmo topónimo em diferentes fontes históricas. Neste caso há a dificuldade de que o mesmo topónimo aparece com localizações distintas segundo os autores. O próprio GT dá quatro entradas que se referem a distintas ilhas dos Ladrões. São os pontos precedentes os que permitem situar aproximadamente o topónimo. A evidência documental estudada por FMPP (vol 3, p.96) permite situar como provável.