(1) Entidade geográfica mencionada
Lingua. Lingaa 31(1).
Nas orações: 357.
- [357](Cap. 31) Siribi Iaya quendou pracamaa de raja, direyto Rey por successaõ de patrimonio da minha catiua Malaca, vsurpada por jugo tyrannico de força de braço na injustiça dos infieis, Rey do Iantana, & de Bintão, & dos subditos Reys de Andraguiree, & de Lingaa, a ty Siry Soltão Alaradim Rey do Achem, & de toda a mais terra de ambos os mares, meu verdadeyro irmão pela antiga amizade de nossos auòs fauorecido por sello dourado da santa casa de Meca por bom & fiel Daroez, como os datos Moulanas que por honra do profeta Noby peregrinaraõ com esteril vida os cansados dias desta miseria.
Lingua 176(1), 179(1).
Nas orações: 2631, 2669.
- [2631](Cap. 176) E elle despois que de todo acabou de entrar em sy, chorando muyta quantidade de lagrimas nos disse: Eu senhores & irmãos meus, sou Christão, inda que no trajo volo não pareça, & Portuguez de pay & mãy, natural de Penamacor, & chamaõme Nuno Rodriguez Taborda, & vim do reyno na armada do Marichal no anno de 1513. na nao S. Ioaõ, de que era capitão Ruy Diaz Pereyra, & por eu ser hum homẽ hõrado, & que de mim dey sempre mostras disso, Afonso d’Albuquerque que Deos tenha na gloria me fez merce da capitania de hũ bargãtim de quatro que inda sómente auia na India naquelle tẽpo, & me achey cõ elle na tomada de Goa, & de Malaca, & lhe ajudey a fazer Calecut, & Ormuz, & me achey presẽte em todos os feitos hõrosos que se fizersõ assi em seu tẽpo, como no de Lopo Soarez, & no de Diogo Lopez de Siqueyra, & dos outros gouernadores ate dõ Anrique de Meneses, que socedeo por morte do Visorrey dõ Vasco da Gama, que no principio da sua gouernação proueo a Frãcisco de Sá de hũa armada de doze vellas, em que leuaua 300. homẽs para fazer fortaleza em Çunda, pelo receyo que então se tinha dos Castelhanos que naquelle tẽpo cõtinuauão Maluco pela noua viagem que o Magalhẽs descubrira, na qual armada eu vim por capitão em hum bargantim que se dezia S. Iorge com vinte & seis homẽs muyto esforçados, que partimos da barra de Bintão quando Pero Mascarenhas o destruyo, & sendo tanto auante como a ilha de Lingua, nos deu hũ tempo tão forte que não o podẽdo payrar, nos foy forçado arribarmos â Iaoa, onde dos sete nauios de remo que eramos se perderaõ os seys, dos quais foy hũ o meu por meus peccados, porque vim dar â costa aquy nesta terra em que agora estamos, ha ja vinte & tres annos, sem de todos os que vinhamos no bargantim escaparem mais que sós très companheyros, dos quais eu só agora sou viuo, & prouuera a Deos nosso Senhor que antes fora morto, porque sẽdo eu por muytas vezes cometido por estes Gẽtios que quisesse seguir suas opinioẽs, o não quiz fazer muyto tẽpo; mas como a carne he fraca, & a fome era grãde, & a pobreza muyto mayor, & a esperãça da liberdade era perdida, a distancia do mesmo tẽpo, & meus peccados foraõ causa de cõdecender a seus rogos, por onde o pay deste Rey me fauoreceo sẽpre, & porque eu ontẽ fuy chamado de hũ lugar em que viuia para vir curar dous homẽs nobres dos principais desta terra, quiz N. Senhor que me tomassem estes perros, para o eu ficar sendo menos, pelo que N. Señor seja bẽdito para todo sẽpre.
- [2669](Cap. 179) E auendo ja vinte & seis dias que trabalhosamente vellejauamos por nossa derrota, ouuemos vista de hũa ilha que se dezia Pullo Condor, a qual nos distaua em altura de oito graos & hum terço Noroeste Sueste com a barra do reyno Camboja, & sendo ja quasi tanto auante como ella nos deu hum tempo do Sul de tormenta de ventos tão impetuosa, que de todo estiuemos perdidos, & vindo correndo com elle a aruore seca, vimos a ilha de Lingua, onde a tormenta nos saltou a Loes sudueste com hum vento tão rijo de escarceo & mares cruzados, que por nenhum modo nos podiamos aproueitar de vella nenhũa; & receosos nos das restingas & baixos que nos demoraurão por proa; pairamos co nauio de mar em traués até que despois de hum grande espaço nos abrio pela sobrequilha de popa, com noue palmos dagoa na primeyra cuberta, pelo que vẽdo nôs a morte jâ tão abraçada com nosco, nos foy forçado cortarmos ambos os mastos, & alijarmos toda a fazenda ao mar, com que o junco ficou algum tanto mais desafogado.
(2) Objecto geográfico interpretado
Ilha. Parte de: Insulíndia.
Referente contemporâneo: Pulau Lingga, Indonesia (AS). Lat. -0.174930, long. 104.695260.
Ilha, reino. GT considera não identificável com o arquipélago de Linga e prefere como possível o ilhéu Spratly ou Storm. Entendo que usa unicamente a ocorrência no cap. 179 baixo a forma Lingua. FMPP (vol. 4, 24) sim identifica como Lingga todas as ocorrências e inclui ‘Lingau’ como equivalente. No cap. 31 (Lingaa) é identificável por homofonia e contexto com as Ilhas Lingga ‘Rey do Iantana e de Bintão, e dos subditos Reys de Anraguiree, e de Lingaa’. No cap. 176, aqui usando a forma Lingua, de novo parece claro que se refere às ilhas Lingaa ‘partimos da barra de Bintão (…) e sendo tanto auante como a ilha de Lingua’. É apenas no cap. 179 que a localização é menos precisa e entendemos a que GT usa (sem considerar as ocorrências anteriores). No entanto, também nesta ocorrência é Linggaa a localização mais provável: (cap. 179) FMP diz claramente que vão a Iaoa: ‘nos foy forçado irmos demandar a costa da Iaoa’, navegando no mar da China meridional avistam a ilha de Lingua e, depois de naufragarem, chegam a terra onde a primeira gente que vem são Iaos e Papuas. As referências posteriores de um mercador das Selebes, o rei de Calapa e finalmente o chegaren a Sunda confirmam por contexto a identificação. Situ0, portanto, como mais do que provável em 0° 10′ S, 104° 39′ E. FMPP (vol. 4, 24) identifica também a forma Lingau (caps. 13, 14) como Lingga. No entanto aqui sim que, ademais de serem nomes distintos, diferem no contexto. Lingau está a se referir a uma povoação do Reino dos Batas, mais ao Norte, na Samatra ‘da parte do Oceano’ (cap. 13), isto é, o Indico, numa zona então disputada com o Achem. Bem distinto do reino (não povoação) de Lingaa, identificado claramente por FMP como domínio do Rei do Iantana.