(1) Entidade geográfica mencionada
Moscouia. Moscoby 124(1).
Nas orações: 1677.
- [1677](Cap. 124) E despois de a ter toda recolhida, se passou para outra cidade muyto mayor & muyto mais nobre, que se chamaua Tuymicão, onde foy visitado pessoalmente de algũs principes seus comarcãos, & por embaixadores o foy tambem doutros Reys & senhores de mais longe, de que os principaes forão seis assaz grandes & poderosos, quais forão o Xatamaas Rey dos Persas, o Siammom Emperador dos Gueos, que confina por dentro deste sertão co Bramaa do Tanguu, o Calaminhan senhor da força bruta dos elifantes da terra, como ao diante direy quando tratar delle, & do seu senhorio, o Sornau de Odiaa, que se intitula Rey de Sião, cujo senhorio cõfina por distãcia de setecentas legoas de costa, como he de Tanauçarim a Champaa cos Malayos & Berdios & Patanes, & pelo sertaõ, co Passiloco & Capimper, & Chiammay, & Lauhos, & Gueos, de maneyra que este somente tem dezassete reynos em seu senhorio, o qual entre esta gentilidade toda se intitula por grao mais supremo, senhor do elifante branco, outro era o Rey dos Mogores, cujo reyno & senhorio jaz por dentro do sertão entre o Coraçone que he jũto da Persia, & o reyno do Dely & Chitor, & hum Emperador que se chamaua o Carão, cujo senhorio, segũdo aquy soubemos, confina por dentro dos montes de Goncalidau em sessenta graos auante, com hũa gente a que os naturaes da terra chamão Moscoby, da qual gente vimos alguns homens aquy nesta cidade, que saõ ruyuos, & de estatura grande, vestidos de calçoẽs, roupetas & chapeos ao modo que nesta terra vemos vsar os Framengos & os Tudescos, & os mais honrados trazião roupoẽs forrados de pelles, & algũs de boas martas, trazião espadas largas & grandes, & na lingoagem que fallauão lhe notamos algũs vocablos Latinos, & quando espirrauão dezião tres vezes dominus, dominus, dominus.
Moscouia 85(1).
Nas orações: 1021.
- [1021](Cap. 85) nos disse, que era natural de Moscouia, de hũa cidade que se dezia Hiquegens, & que auia cinco annos que estaua aly preso por morte de hum homem, porque fora sentenceado a carcere perpetuo, mas que por ser estrangeyro tinha apellado para o tribunal do Aytau da Batampina na cidade do Pequim, que era o supremo Almirante sobre os trinta & dous almirantes dos trinta & dous reynos que saõ sogeitos a aquelle imperio, o qual Almirante por jurisdição particular, tinha alçada sobre toda a gente forasteyra, & mareantes que vinhão de fora, onde esperaua ter remedio para ser solto, & para yr morrer Christão entre Christãos.
Moscouitas 88(1).
Nas orações: 1050.
- [1050](Cap. 88) E o quinto rio por nome Leysacotay, corta, segundo a opinião de todos os Chins a terra a Leste ate o anchacilado de Xinxipou, que confina cos Moscouitas, & dizem que se mete num mar innauegauel, por causa de estar o clima em altura de setenta graos.
Muscoo 126(1).
Nas orações: 1704.
- [1704](Cap. 126) E perguntando nós aos embaixadores quem inuentara aquelle modo de tiros, nos disseraõ que hua gente que se chamaua Alimanis, de hũa terra por nome Muscoo, que por hum lago dagoa salgada muyto grande & fundo aly vierão ter em noue embarcaçoẽs de remo, em cõpanhia de hũa molher viuua senhora de hum lugar que se dezia Guaytor, aquem hum Rey de Dinamarca dezião que lançara fora da sua terra, & vindo aly ter fugida com tres filhos seus, o visauó deste Rey Tartaro os fizera grandes senhores, & os casara com parentas suas, dos quais agora procedião as principaes casas daquelle imperio.
(2) Objecto geográfico interpretado
Região (terra). Parte de: Europa.
Referente contemporâneo: Moscow, Russia (EU). Lat. 55.752220, long. 37.615560.
Região, gentílico. FMPP s.v. Muscovy recolhe todas as variantes e inclui o lago Moscumbià. Concordamos com FMPP neste agrupamento, pois Moscumbià parece uma variante ou como mínimo guardar uma relação etimológica directa com Moscóvia, mas ao tratar-se de topónimo referido a um acidente geográfico mais do que uma região, cidade, império ou gentílico, registei Moscumbià como entrada independente para singularizá-lo no mapa. Nesta entrada estudo o termo e variantes no sentido de se referirem a uma grande região que abarca o norte da Eurásia até à geografia asiática mais oriental. No capítulo 88 as terras dos Moscouitas são situadas como limítrofes com um reino cortado pelo rio Leysacotay (que GT identifica com o Amur), neste caso Pinto dá a entender que a informação procede de fontes chinesas. Pinto fala por experiência própria dos Moscoby. Acha semelhanças com os povos germanos da Europa Ocidental (flamengos e tudescos) e nota que usam algumas palavras procedentes do Latim, mas contudo advirte que lhe não parecem cristãos (vid. notas críticas de Françoise Aubin em FMPP vol 3, 159-60).
Em duas ocorrências FMP usa os gentílicos Alemão e Alimanis para se referir aos habitantes de Moscouia e Muscoo respectivamente. No primeiro caso Pinto fala por experiência directa: conhece um alemão na cadeia de Pequim com quem se comunica em língua chinesa. No cap. 126, em termos de relata refero e passado semi-legendário, os Alemanis procedem de Muscoo.
Concluo que o gentílico alemany em FMP se refere a ‘habitante de Moscóvia’, termo para o que também se usa a forma ‘moscouita’ e ‘moscoby’ como habitantes de uma enorme região do norte da Eurásia até os seus confins mais orientais.