(1) Entidade geográfica mencionada
Osquy. Osquy 135(1), 201(2), 223(3), 224(1), 225(3).
Nas orações: 1850, 3047, 3053, 3518, 3520, 3528, 3551, 3579, 3583, 3584.
- [1850](Cap. 135) E fazẽdo assi nossos pousos em terra cada dia, onde nos prouiamos de bõs refrescos, chegamos a hũa fortaleza del Rey do Bungo chamada Osquy, sete legoas da cidade, na qual fortaleza este Fingeandono se deteue dous dias, porque o Capitão della, que era seu cunhado, estaua muyto doente.
- [3047](Cap. 201) Naquelle mesmo dia se deu rebate de tudo o que era passado ao principe filho del Rey, que naquelle tempo estaua na sua fortaleza de Osquy, sete legoas da cidade Fucheo, o qual assaz sobresaltado com esta noua, despois que lamentou a morte de seu pay, se quisera vir logo meter na cidade cõ algũs priuados seus que então sómente tinha comsigo, porem o Fingeindono seu ayo lho não consintio, põdolhe diante muytas razoens que auia para o não fazer até se não saberem os termos em que aquelle negocio então estaua, porque de crér era que quem se determinara a matar seu pay, não arrecearia matallo tambem a elle, pois tinha ainda póder para isso, & elle então para se defender não tinha nenhum, mas que com toda a presteza ajuntasse logo toda a mais gente que lhe fosse possiuel, porque com ella sojeitaria & castigaria seus inimigos.
- [3053](Cap. 201) Passados sete dias despois que aconteceo este triste caso, porque então auia já aly muyta gente junta, & aquella terra era falta de mantimentos, foy aconselhado o principe que fizesse o que pretendia antes que os dez mil do motim se espalhassem por diuersas partes, & elle se partio deste lugar de Osquy para a cidade com hum grosso campo de gente muyto luzida & bem armada, o qual foy esmado em cento & trinta mil homẽs, de que os dezassete mil eraõ de cauallo, & os mais de pé, & todos gente para qualquer grande feito.
- [3518](Cap. 223) Surtos nos pela misericordia de Deos na bahia da cidade Fucheo de que jà atras fiz menção muytas vezes, que he a metropoly do reyno do Bungo, & onde agora florece a principal Christandade de todo o Iapaõ, se assentou, por parecer dos mais que fosse eu à fortaleza de Osquy, onde tiuemos por nouas que el Rey então estaua, & ainda que eu algum tanto arreceaua esta ida, porque a terra a este tẽpo estaua aleuantada, todauia me foy forçado aceitala, por mo pedirem todos geralmente com muyta efficacia, & fazendome logo prestes com mais quatro cõpanheyros que leuey comigo, despois que receby hum presente que dom Francisco capitão da nao mandaua a el Rey que valeria quinhentos cruzados, me party da nao, & desẽbarcãdo no caiz da cidade me fuy a casa do Quansio andono almirãte do mar, & capitão de Canafama, o qual me recebeo cõ mostras de muyto gasalhado, que algũ tanto me desaliuou do receyo que leuaua.
- [3520](Cap. 223) Partido eu da cidade, cheguey o outro dia âs noue horas a hũ lugar que se dezia Fingau que seria hũ quarto de legoa da fortaleza de Osquy, donde por hũ dos Iapoẽs que leuaua comigo mandey dizer ao Osquim dono capitão della como eu era aly chegado, & que trazia hũa embaixada do Visorrey da India para sua alteza, pelo que lhe pedia me mandasse dizer quando queria que lhe fallasse; a que me elle respondeo logo por hũ seu filho, que a minha vinda cõ a de todos os meus cõpanheyros fosse muyto boa, & que jâ tinha mandado recado a el Rey à ilha do Xeque para onde fora ante menham cõ muyta gente a matar hũ grãde peixe, a que se não sabia o nome, que do centro do mar aly viera ter com outra grande soma de peixes pequenos, & que pelo ter cercado já num esteyro lhe parecia que não poderia vir senão de noite, mas que do que sua alteza lhe respondesse me mandaria logo recado, mas que entre tanto descançasse noutras casas milhores em que me mãdaua apousentar, onde seria prouido de tudo o necessario, porque toda aquella terra era tanto del Rey de Portugal como Malaca, Cochim, & Goa.
- [3528](Cap. 223) Acabado isto, se partio logo desta ilha do Xeque para Osquy, & chegou a sua casa jà com hũa hora de noite, onde foy recebido de todos os seus com muyta festa & regozijo ao seu modo, & lhe deraõ os parabẽs de tão honroso feito como fora o daquella balea, atribuindo a elle só o que os outros fizeraõ, que este perjudicial vicio da adulação he taõ natural das cortes & das casas dos principes, que até entre o barbarismo da gentilidade lhe não faltou seu lugar.
- [3551](Cap. 224) Passados os seis dias, el Rey se abalou da fortaleza de Osquy para a cidade Fucheo, acompanhado de muyta & muyto nobre gente em que entraua hũa guarda de seiscentos homens de pé & duzentos de cauallo que mostrauão grande magestade, onde chegado, todo o pouo o recebeo cõ muytas festas & muytos regozijos, & farças & inuençoẽs ao seu modo muyto custosas.
- [3579](Cap. 225) Ao outro dia duas horas despois da vespera o padre se tornou a ver com el Rey, & deixando a parte o muyto gasalhado que entaõ lhe fez, como custumou sempre, no mais de que se trataua com elle nunca fallou a proposito, mas tornandose daly da cidade para a sua fortaleza de Osquy, lhe mandou dizer que se ficasse embora, & que lhe rogaua que não deixasse de o ver daly a algũs dias, porque gostaua muyto de falar das grandezas de Deos, & da perfeiçaõ da sua ley.
- [3583](Cap. 225) Eu vendo na cidade Fucheo andar o negocio dos padres nestes termos, & o padre mestre Belchior já quasi embarcado de todo na nao, me fuy a Osquy ver com el Rey, & lhe pedy a reposta da carta que lhe trouxera do Visorrey, a qual me elle logo deu, porque a tinha ja feita, & por retorno do presente lhe mandou hũas armas ricas, & dous treçados douro, & cem auanos Lequios, a qual carta, que era feita por elle dezia assi Senhor Visorey da magestade honrosa, assentado no trono dos que fazẽ justiça por poderio de cetro, eu Yaretandono Rey do Bungo lhe faço saber, que a esta minha cidade Fucheo veyo a mim de seu mandado Fernão Mendez Pinto com hũa carta de sua real senhoria, & hum presente de armas & de outras peças muyto agradaueis a minha tenção, que muyto estimey por serem da terra do cabo do mũdo por nome Chenchicogim, onde por poderio de armadas muyto grossas, & exercitos de gentes de diuersas naçoẽs reyna o lião coroado do grande Portugal, por cujo seruidor & vassallo me dou de oje por diante com lealdade de amigo taõ verdadeyro & doce como o cantar da serea na tormenta do mar, pelo que lhe peço por merce que em quanto o sol não discrepar do effeito paraque Deos o criou, nem a agoa do mar deixar de subir & decer pelas prayas da terra, se não esqueça desta meuagem que por elle mando fazer ao seu Rey & irmão meu mais velho, por cujo respeito esta minha obediencia fique honrosa, como confio que sempre serâ, & essas armas que là lhe mando, tomarâ por sinal & prenda de minha verdade, como entre nós os Reys de Iapaõ se custuma.
- [3584](Cap. 225) Desta minha fortaleza de Osquy aos noue mamocos da terceyra lũa dos trinta & sete annos de minha idade.
(2) Objecto geográfico interpretado
Fortaleza. Parte de: Bungo.
Referente contemporâneo: Usuki, Japan (AS). Lat. 33.123420, long. 131.804010.
Fortaleza. A 7 léguas da cidade de Fucheo (cap. 201). Moraes (1920:46,59): Usuki. GT: 33º 07’ N, 131º, 47’ E, na ilha de Kyushu. Jurgis Elisonas (FMPP vol. 3, p. 178): porto e castelo na baia de Usuki, a existência do fortaleza está documentada desde 1556.