(1) Entidade geográfica mencionada
Panaajù. Panaajù 15(2), 17(2), 18(1), 20(1).
Nas orações: 164, 169, 190, 200, 228.
- [164](Cap. 15) Indo nos por este rio acima espaço de sete ou oyto legoas, chegamos a hũa pouoação pequena que se dizia Batorrendão, que em nossa lingoajem quer dizer pedra frita, distante obra de hũ quarto de legoa da cidade de Panaajù, onde então o Rey dos Batas se estaua fazẽdo prestes para yr sobre o Achẽ, o qual tanto que soube do presente & carta que lhe eu leuaua do Capitão de Malaca, me mandou receber pelo Xabandar, que he o que gouerna com mando supremo todas as cousas tocantes ao meneyo das armadas; o qual com cinco lancharas, & doze balloẽs me veyo buscar a aquelle porto onde eu estaua surto, & me leuou com grande estrondo de atabaques & sinos & grita da chusma, até hum caiz da cidade, que se dizia Cãpalator, onde o Bendara, Gouernador do reyno me estaua esperando, acompanhado de muytos Ourobaloẽs, & Amborrajas, que he a mais nobre gente da corte, porem os mais delles, ou quasi todos pobrissimos no trato de suas pessoas, & nos seus vestidos, por onde entendi que não era esta terra tão rica como em Malaca se cuydaua.
- [169](Cap. 15) E porque ja neste tempo que aquy cheguey, el Rey estaua de caminho para o Achem, & não entendia em outra cousa, senão no que conuinha para este effeito, passados noue dias despois que cheguey a esta cidade de Panaajù, metropoli deste reyno Bata, se partio cõ toda a gente que ahy tinha comsigo, para hũ lugar que se chamaua Turbão, daly cinco legoas, onde a mayor parte da gente o estaua ja esperando, ao qual chegou com hũa hora de Sol, sem estrondo nem regozijo algum, pelo sentimento da morte dos tres filhos, que sempre com mostras de muyta tristeza, se enxergou nelles.
- [190](Cap. 17) E chegando daly a cinco dias a Panaajù, despidio toda a gente assi natural como estrangeyra, & se foy pelo rio acima em hũa lanchara pequena, sem querer leuar comsigo mais que dous ou tres homẽs, & foy ter a hum lugar que se dizia Pachissarù, no qual esteue encerrado catorze dias, a modo de nouenas, em hum pagode de hum idolo que se chamaua Guinasseroo, deos da tristeza, & tornado para Panaajù, me mãdou chamar, & ao Mouro que feytorizaua a fazenda de Pero de Faria, ao qual esteue miudamente perguntando pela venda della, & se lhe ficauaõ deuendo algũa cousa, porque lho mandaria logo pagar, a que o Mouro & eu respondemos que com as merces & fauores de sua alteza tudo se nos fizera muyto bem feito, & que os mercadores tinhão ja pago tudo sem ficarẽ deuẽdo nada, & que o Capitão lhe seruiria aquella merce cõ muyto cedo o vingar daquelle inimigo Achem, & lhe restituyr as terras que lhe elle tinha tomado: ao que el Rey, despois de estar hum pouco pẽsatiuo co que me ouuira, respondeo, Ah Portuguez, Portuguez, rogote que não faças de mim tão necio, ja que queres que te responda, que cuyde que quẽ em trinta annos se não pode vingar a sy, me possa socorrer a mim, porque como o Rey de vos outros, & os seus Gouernadores, não castigaraõ este inimigo, quãdo vos tomou a fortaleza de Paacem, & a Galè que hia para Maluco, & as tres naos em Quedà, & o Galeaõ de Malaca em tempo de Garcia de Sà, & as quatro fustas despois em Salangor, com as duas naos que vinhão de Bẽgala, & o junco, & o nauio de Lopo chanoca, & outras muytas embarcaçoẽs que agora me não vem à memoria, em que me affirmaraõ que matara mais de mil de vosoutros, a fora a presa riquissima que tomou nellas, logo foy para elle me destruyr a mim, & eu ter muyto poucas esperanças em vossas palauras, bastame ficar como fico, cõ tres filhos mortos, & a mayor parte do meu reyno tomada, & vos na vossa Malaca não muyto seguros.
- [200](Cap. 18) E partidos deste porto de Panaajù, chegamos cõ duas horas de noite a hũ ilheo, que se dizia Apefingau, obra de hũa legoa & meya da barra, pouoado de gẽte pobre, que viue pela pescaria dos saueis, de que, por falta de sal, não aproueitão mais que sòs as ouas das femeas, como nos rios de Aarù, & Siaca, nestoutra costa do mar mediterraneo.
- [228](Cap. 20) E assi mais lhe dey relação de outras muytas cousas que soube do Rey dos Batas, & de mercadores da cidade de Panaajù.
Panaajû 15(1), 18(1).
Nas orações: 163, 193.
- [163](Cap. 15) Do que em Panaajû passey co Rey dos Batas, antes que se partisse para o Achem.
- [193](Cap. 18) Tornados o Mouro & eu para a casa onde ambos pousauamos, estiuemos mais quatro dias, acabãdo de embarcar hũs cem bares de estanho, & trinta de beijoim que ainda tinhamos em terra, & como de todo estiuemos satisfeitos dos deuedores para nos podermos yr, me fuy ao passeiuão das casas del Rey, & lhe dey cõta de como estaua ja de todo auiado, & prestes para me partir, se sua alteza me desse licẽça, ao que elle, fazẽdome gasalhado, me respõdeo, folguey co que ontem me disse o meu Xabandar, que a fazenda do Capitão hia bẽ negociada, mas porque pode ser que nisso não pretenderia tanto dizerme a verdade, como falarme à vontade, pelo desejo & gosto que elle sempre vio que eu tinha disso, te rogo muyto que me digas se he assi, & se vay contente esse Mouro que trouxe a fazenda, porque não queria que à custa da minha hõra se praguejasse em Malaca dos mercadores de Panaajû, que não tem verdade no que tratão, nem ha hy Rey que os constranja a pagarem o que deuẽ, porque te affirmo a ley de bom Gentio que serà isso tamanha afrõta para minha condiçaõ, como se agora sem me vingar fizera pazes co inimigo tyrãno, & perjuro Achem, ao que eu respondi, que sem falta nenhũa tudo hia muyto bem feito, & a fazenda toda paga, sem se ficar deuendo della nada.
Panajù 13(1).
Nas orações: 139.
- [139](Cap. 13) De Panajù, aos cinco mamocos da oitaua Lũa.
(2) Objecto geográfico interpretado
Cidade (porto). Parte de: Bata.