(1) Entidade geográfica mencionada
Bungo. Bũgo 135(3), 200(2), 208(1), 211(1).
Nas orações: 1842, 1844, 1846, 3021, 3022, 3195, 3248.
- [1842](Cap. 135) E despois de estar com elle hum grande espaço pregũtandolhe por algũs particularidades, leyo a carta entre sy, & entendendo a sustancia della, ficou algum tanto mais carregado, & despidindo de sy o que lha trouxera, cõ o mandar agasalhar honradamente, nos chamou para junto de sy, & acenou ao interprete que estaua hũ pouco mais afastado, & nos disse por elle, rogouos muyto amigos meus que ouçais esta carta que me agora derão del Rey do Bũgo meu senhor & tio, & então vos direy o que quero de vós.
- [1844](Cap. 135) Olho direyto do meu rosto, assentado igual de mim como cada hũ dos meus amados, Hyascarão goxo Nautoquim de Tanixumaa, eu Oregemdoo vosso pay no amor verdadeyro de minhas entranhas, como aquelle de quem tomastes o nome & o ser de vossa pessoa, Rey do Bũgo & Facataa, senhor da grande casa da Fiancima, & Tosa, & Bandou, cabeça suprema dos Reys pequenos das ilhas do Goto & Xamanaxeque, vos faço saber filho meu pelas palauras de minha boca ditas a vossa pessoa, que os dias passados me certificarão homens que vierão dessa terra que tinheis nessa vossa cidade hũs tres Chenchicogins do cabo do mũdo, gente muyto apropriada aos Iapoẽs, & que vestem seda & cingem espadas, não como mercadores que fazem fazenda, senão como homẽs amigos de honra, & que pretendẽ por ella dourar seus nomes, & que de todas as cousas do mundo que lâ vão por fora vos tem dado grãdes informaçoẽs, nas quais afirmão em sua verdade que ha outra terra muyto mayor que esta nossa, & de gẽtes pretas & baças, cousas increiueis ao nosso juizo, pelo que vos peço muyto como a filho igual aos meus, que por Fingeandono, por quẽ mando visitar minha filha, me queirais mandar mostrar hum desses tres que me lá dizem que tendes pois, como sabeis, mo está pedindo a minha prolongada doença & má disposição, cercada de dores, & de muyta tristeza, & de grãde fastio, & se tiuerem nisto algũ pejo, os segurareis na vossa & na minha verdade, que logo sem falta o tornarey a mãdar em saluo, & como filho que deseja agradar a seu pay, fazey que me alegre cõ sua vista, & que me cũpra este desejo, & o mais que nesta deixo de vos dizer, vos dirâ Fingeandono, pelo qual vos peço que liberalmente partais comigo de boas nouas de vossa pessoa & de minha filha, pois sabeis que he ella a sobrancelha do meu olho direyto, com cuja vista se alegra meu rosto.
- [1846](Cap. 135) Despois de lida esta carta, nos disse o Nautoquim, este Rey do Bũgo he meu senhor & meu tio, irmão de minha mãy, & sobre tudo he meu bom pay, & ponholhe este nome, por que o he de minha molher, pelas quais razoẽs me tem tanto amor como aos seus mesmos filhos, & eu pela grande obrigaçaõ que por isto lhe tenho, vos certifico que estou tão desejoso de lhe fazer a vontade, que dera agora grande parte da minha terra porque Deos me fizera hum de vos outros, assi para o yr ver, como para lhe dar este gosto que eu entendo, pelo muyto que sey da sua condição, que elle estimarà mais que todo o tisouro da China.
- [3021](Cap. 200) E partindonos daquy ao outro dia seguinte para o reino do Bũgo que distaua daly para diante cem legoas para o Norte, prouue a nosso Senhor que aos cinco dias da nossa viagẽ surgimos no porto da cidade Fucheo na qual do Rey, & da gente da terra fomos bẽ recebidos, & com muito fauor & franqueza nos direitos de nossas fazẽdas, & muito mais ouuera de ser ainda, se por nossos peccados o não matara neste breue tempo que aquy estiuemos, hum seu vassallo por nome Fucarãdono, principe poderoso & senhor de muitos vassallos, de muita rẽda & de grãde estado, o qual desestrado caso foy desta maneyra.
- [3022](Cap. 200) Andaua na corte deste Rey de Bũgo no tẽpo que aquy chegamos hũ mãcebo por nome Axirandono, sobrinho del Rey de Arimaa, o qual por agrauos que tiuera del Rey seu tio, auia jà mais de hũ anno que se viera para esta corte, & fazia então ja fundamẽto de não tornar mais a sua terra, mas socedẽdo por sua boa fortuna, fallecer neste meyo tẽpo el Rey seu tio sẽ auer quẽ socedesse no reyno, o declarou a elle por seu herdeyro.
- [3195](Cap. 208) No fim deste tẽpo se passou ao reyno de Omanguchè, onde conuerteo passante de 3000. almas em pouco mais de hũ anno que esteue na cidade, que foy ate 5. de Setẽbro do anno de 1551. porque entaõ tẽdo nouas que ao reyno do Bũgo era chegada hũa nao Portuguesa, mandou logo lâ por terra que eraõ 60. legoas, hum Christão por nome Mateus, cõ hũa carta ao capitão & mercadores della, que dezia assi.
- [3248](Cap. 211) Quarẽta & seis dias eraõ passados despois que este bemauenturado padre entrou nesta cidade Fucheo, metropoli, como ja disse, do reyno do Bũgo na ilha Iapaõ, nos quais sempre entendeo tanto de proposito na conuersaõ das almas, sem tratar doutra nenhũa cousa, que de marauilha Portuguez nenhum podia ter delle hũa só hora, senão se era ás noites em praticas espirituais, & nas menhãs nas confissoẽs.
Bungo 134(1), 135(4), 208(1), 209(1), 210(1), 215(1), 218(2), 223(3), 224(1), 225(2).
Nas orações: 1835, 1839, 1840, 1847, 1850, 3201, 3202, 3221, 3388, 3438, 3439, 3514, 3517, 3518, 3550, 3565, 3583.
- [1835](Cap. 134) E despois a derradeyra vez que me là mandou o Visorrey dõ Afonso de Noronha com hum presente para o Rey do Bungo, que foy no anno de 1556. me affirmaraõ os Iapoẽs, que naquella cidade do Fucheo, que he a metropoly deste reyno, auia mais de trinta mil.
- [1839](Cap. 135) Como este Nautoquim me mandou mostrar ao Rey do Bungo, & do que vy & passey atè chegar onde elle estaua.
- [1840](Cap. 135) Avendo jâ vinte & tres dias que estauamos nesta ilha de Tanixumaa descançados & contẽtes, passando o tempo em muytos desenfadamentos de pescarias & caças a que estes Iapoẽs comummente saõ muyto inclinados, chegou a este porto hũa nao do reyno do Bungo, em que vinhão muytos mercadores, os quais desembarcando em terra foraõ logo visitar o Nautoquim com seus presentes, como tem por custume.
- [1847](Cap. 135) E ja que de mim tendes entendida esta vontade, vos rogo muyto, que conformeis a vossa com ella, & que queira hum de vós ambos yr a Bungo ver este Rey que eu tenho por pay & senhor, porque estoutro a que dey nome & ser de parente não o ey de apartar de mim até que de todo me não insine a tirar como elle.
- [1850](Cap. 135) E fazẽdo assi nossos pousos em terra cada dia, onde nos prouiamos de bõs refrescos, chegamos a hũa fortaleza del Rey do Bungo chamada Osquy, sete legoas da cidade, na qual fortaleza este Fingeandono se deteue dous dias, porque o Capitão della, que era seu cunhado, estaua muyto doente.
- [3201](Cap. 208) Cõ esta reposta despidiraõ logo o Christão que lhes trouxe a carta, o qual hia bẽ contẽte pelo muyto que lhe deraõ, & pelo bõ gasalhado cõ que foy tratado os dias que aly esteue, & em cinco dias de caminho chegou à cidade de Omanguche, onde o padre pela certeza da nao, & pelas cartas que lhe trouxe o recebeo cõ grande aluoroço, & daly a tres dias se partio para a cidade do Fucheo, que he a metropoly do reyno do Bungo, onde nesta nao que tenho dito, que era de Duarte da Gama, estauamos então trinta Portugueses, fazendo nossas fazendas, & hũ sabado chegaraõ a nòs tres Iapoẽs Christaõs que vinhão em sua cõpanhia, pelos quais o capitão Duarte da Gama soube que o padre ficaua daly duas legoas em hũ lugar que se dezia Pimlaxau com dòr de cabeça, & os peis inchados das 60. legoas de caminho que até ly tinha andado, & que lhe parecia, segũdo vinha mal desposto, que auia mister algũs dias para se curar, & poder acabar o caminho, ou hũa caualgadura em que viesse se a quisesse aceytar.
- [3202](Cap. 209) Como este bemauenturado padre chegou ao porto de Finge onde estaua a nossa nao, & do que passou até yr ver el Rey do Bungo â cidade Fucheo.
- [3221](Cap. 210) Das honras que el Rey de Bungo fez ao padre mestre Francisco este primeyro dia que se vio com elle.
- [3388](Cap. 215) E em verdade affirmo que quando me ponho a cuydar no que vy por meus olhos das grandes honras que el Rey do Bungo, sendo Gentio, fez em Iapão a este padre, só por lhe dizerem que era homem que daua noticia da ley de Deos, como atras fica dito, & o que despois vy em Malaca, fico pasmado, & assi creyo que o ficara todo o homem Christão que vira hum & o outro.
- [3438](Cap. 218) Neste mesmo dia á tarde chegou a esta cidade de Goa hũ Portuguez por nome Antonio Ferreyra casado em Malaca, cõ hũ presente de peças ricas para o Visorrey, que lhe mãdaua de Iapaõ el Rey do Bungo, com hũa carta que dezia assi.
- [3439](Cap. 218) Illustre & de magestade muyto rica senhor Visorrey dos limites da India, leão espantoso nas ondas do mar, por força de naos & de bombardas grossas, eu Yacataa andono Rey do Bungo, de Facataa, de Omanguche, & da terra de ambos os mares, senhor dos Reys pequenos das ilhas da Tosa, Xemenaxeque, Miaygimaa, te faço saber por esta minha carta que ouuindo eu os dias passados o padre Frãcisco Chenchicogim praticar da noua ley do criador de todas as cousas que ás gẽtes de Omanguche andaua pregando lhe promety em segredo fechado em meu coração que tornãdo elle a este meu reyno tomaria de sua mão o nome & a agoa do santo bautismo, inda que a nouidade de tamanho abalo me pusesse em discordia cõ meus vassallos, & elle me prometeo tambẽ que dandolhe Deos vida tornaria muyto cedo, & porque esta sua tardança se estẽdeo mais do que minha esperança cuydaua, quis lâ mandar este homẽ a saber delle & de vossa senhoria a causa que lhe impede a sua vinda.
- [3514](Cap. 223) Como chegamos ao reyno do Bungo, & do que lâ passamos com el Rey.
- [3517](Cap. 223) E porque as agulhas aquy neste clima nordestearaõ, & as agoas corriaõ ao Norte, perdeo o piloto toda a estimatiua da nauegação, de maneyra, que jâ quando conheceo seu erro, inda que por natureza marinhatica o não queria confessar, tinhamos escorrido o porto para onde hiamos sessenta legoas abaixo, pelo qual com assaz de trabalho, por nos ficarem os vẽtos ponteyros, o tornamos a tomar daly a quinze dias, & com bem de enfadamento, & risco de nossas fazendas & vidas, porque toda aquella costa estaua leuantada contra o Rey do Bungo nosso amigo, & cõtra os habitadores della por serem muyto amigos da ley do Senhor que os nossos padres lâ denuncião.
- [3518](Cap. 223) Surtos nos pela misericordia de Deos na bahia da cidade Fucheo de que jà atras fiz menção muytas vezes, que he a metropoly do reyno do Bungo, & onde agora florece a principal Christandade de todo o Iapaõ, se assentou, por parecer dos mais que fosse eu à fortaleza de Osquy, onde tiuemos por nouas que el Rey então estaua, & ainda que eu algum tanto arreceaua esta ida, porque a terra a este tẽpo estaua aleuantada, todauia me foy forçado aceitala, por mo pedirem todos geralmente com muyta efficacia, & fazendome logo prestes com mais quatro cõpanheyros que leuey comigo, despois que receby hum presente que dom Francisco capitão da nao mandaua a el Rey que valeria quinhentos cruzados, me party da nao, & desẽbarcãdo no caiz da cidade me fuy a casa do Quansio andono almirãte do mar, & capitão de Canafama, o qual me recebeo cõ mostras de muyto gasalhado, que algũ tanto me desaliuou do receyo que leuaua.
- [3550](Cap. 224) Da maneyra que el Rey do Bungo recebeo a embaixada do Visorrey da India.
- [3565](Cap. 225) Como o padre mestre Belchior se vio com el Rey do Bungo, & do que passou com elle, & da reposta que el Rey me deu da embaixada que lhe leuey.
- [3583](Cap. 225) Eu vendo na cidade Fucheo andar o negocio dos padres nestes termos, & o padre mestre Belchior já quasi embarcado de todo na nao, me fuy a Osquy ver com el Rey, & lhe pedy a reposta da carta que lhe trouxera do Visorrey, a qual me elle logo deu, porque a tinha ja feita, & por retorno do presente lhe mandou hũas armas ricas, & dous treçados douro, & cem auanos Lequios, a qual carta, que era feita por elle dezia assi Senhor Visorey da magestade honrosa, assentado no trono dos que fazẽ justiça por poderio de cetro, eu Yaretandono Rey do Bungo lhe faço saber, que a esta minha cidade Fucheo veyo a mim de seu mandado Fernão Mendez Pinto com hũa carta de sua real senhoria, & hum presente de armas & de outras peças muyto agradaueis a minha tenção, que muyto estimey por serem da terra do cabo do mũdo por nome Chenchicogim, onde por poderio de armadas muyto grossas, & exercitos de gentes de diuersas naçoẽs reyna o lião coroado do grande Portugal, por cujo seruidor & vassallo me dou de oje por diante com lealdade de amigo taõ verdadeyro & doce como o cantar da serea na tormenta do mar, pelo que lhe peço por merce que em quanto o sol não discrepar do effeito paraque Deos o criou, nem a agoa do mar deixar de subir & decer pelas prayas da terra, se não esqueça desta meuagem que por elle mando fazer ao seu Rey & irmão meu mais velho, por cujo respeito esta minha obediencia fique honrosa, como confio que sempre serâ, & essas armas que là lhe mando, tomarâ por sinal & prenda de minha verdade, como entre nós os Reys de Iapaõ se custuma.
(2) Objecto geográfico interpretado
Reino. Parte de: Iapaõ.
Referente contemporâneo: Oita Prefecture, Japan (AS). Lat. 33.198990, long. 131.433530.
Reino. GT Bungo província actual 33º 05N, 131º 25E. FMPP (vol. 3, p. 172) hoje em dia província de Oita.